João Neutzling Jr.
A ordem mundial em transformação
João Neutzling Jr.
Economista, bacharel em Direito, mestre em Educação, auditor estadual, professor e pesquisador
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O processo de globalização da economia mundial e a integração de mercados têm acirrado a competição entre as nações e mostrado a fragilidade de muitos atores.
Quando a armada britânica venceu Espanha e França na batalha de Trafalgar em 1805, a Inglaterra tornou-se a "senhora absoluta dos mares" e passou a impor a sua moeda, a libra esterlina, como referência monetária internacional. O auge da expansão colonial britânica foi o governo da rainha Vitória (1837-1901). Sua influência e poder duraram até o fim da Segunda Guerra, em 1945. O país arrasado pela blitzkrieg alemã e sem recursos financeiros para se reconstruir teve que abdicar de seu papel como emissor da moeda de uso universal. Para substituir a libra esterlina, foi acertado pelo acordo de Bretton Woods (1944) o uso do dólar americano como moeda de reserva e de uso internacional. Sendo que o governo dos Estados Unidos se comprometeu a converter dólar pelo preço de 35 dólares por onça de ouro (24 gramas).
Para ajudar a reconstruir a Europa, devastada pela guerra, o governo dos Estados Unidos criou o plano Marshall, com empréstimo de 14 bilhões de dólares. Nas décadas de 50 e 60, os Estados Unidos assumiram a dianteira do ciclo de crescimento econômico mundial impulsionado ainda pela indústria de manufaturados e serviços.
Porém, o ciclo de crescimento chegou ao fim. Em 15 de agosto de 1971, o presidente Richard Nixon rompeu unilateralmente o acordo de Bretton Woods, suspendendo a conversibilidade automática do dólar em ouro após intensa pressão francesa. Foi o fim do padrão-ouro. O dólar americano passou a ter seu valor definido no mercado financeiro internacional pela oferta e demanda de moedas.
Hoje, os Estados Unidos já não têm mais a mesma pujança de outrora e suas fragilidades são notórias. O país tem hoje uma dívida pública de 30 trilhões de dólares e um déficit na balança comercial (exportação menor que importação) de 120 bilhões de dólares ao ano. O PIB americano está em 23 trilhões de dólares. A China segue atrás, com PIB de 19 trilhões de dólares.
Como o planeta pode confiar em um devedor contumaz que, apesar de emitir a moeda de referência mundial, tem uma dívida insolúvel? Por uma razão: a China e o Japão financiam a dívida americana comprando os títulos da dívida pública emitidos pelo Federal Reserve System (FED), banco central dos Estados Unidos. Mas por qual razão? Por que os Estados Unidos são o maior mercado consumidor de bens manufaturados asiáticos, com mais 300 milhões de consumidores. A mudança do paradigma começou com Deng Xiaoping (governo de 1978-2002), que implantou o regime capitalista, propriedade privada, mas com predomínio do partido comunista chinês.
Hoje, os Estados Unidos disputam com a China a supremacia em semicondutores, além de terem perdido várias fábricas de bens manufaturados (automóveis, vestuário e computadores) para a Ásia, causando desemprego nos Estados Unidos.
Em conclusão, o mundo passou por várias etapas onde a moeda dominante foi o florim holandês (século 17), depois a libra esterlina inglesa no século 19, dólar dos Estados Unidos no século 20 e, atualmente, estamos assistindo a transição para o yuan chinês, de forma gradual, mas efetiva.
Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos (1977-1981), disse que desde 1979 a China nunca entrou em guerra com ninguém, mas que os Estados Unidos estão constantemente em guerra com alguém em algum lugar. Então, temos uma ordem mundial em transformação?
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